quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Velho Barbado

E o velho barbado que senta ao lado das fortes marés que se chocam contra a costa, olhando para o fundo do universo; o céu nem tão claro, nem tão escuro - culpa do brilhante sol que ainda forrava a superfície das águas agitadas - ia se apagando lentamente.

Com os olhos ironicamente tão marejados quanto o que vinha lhe chamar a cada batida nas pedras, encarava adiante o infinito céu, com seu trist
e semblante.

Ora, que má hora para se lembrar da vida agora. Cheia de abstinências e incoerências, talvez por parte da incompetência de um passado que a desconsertou. Seja lá qual o motivo, nunca mais voltou a ser quem um dia já foi.

Lembrava chorando dos dias que passava brincando com quem se dispusesse a gastar um bom tempo empinando pipas ao vento. Seja lá quem fosse, não importa sua cor ou sua crença, pois o que reinava era sua indiferença para rótulos tão mundanos.

Seus olhos marejados acabam denunciando momentos complicados de uma infância nem tão pura, que o tempo não cura e nem pode mudar. A perda de um grande amor acabou com todo o calor que aquele agora velho poderia doar.

Mas que rufem os tambores quem nunca passou por tamanhos horrores que só a infeliz vida pode nos proporcionar. E sabendo que seguir em frente seria complicado, sacou uma trouxa e um pequeno cajado e se dispôs a caminhar.

Andou por muitos anos, por muitos caminhos sem os carinhos de alguém que pudesse o amar. Só parou de andar quando seus calejados pés puderam finalmente tocar o mar.

E lá morreu sentado, com um sol nem tão mais quente, quem jurou nunca mais amar novamente.

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