quarta-feira, 29 de agosto de 2012

El Loco

Era um homem de duas facetas. Cheio de mistérios, não se relacionava com ninguém. Possuía uma longa barba, cabelos brancos e profundas olheiras. Vestia-se com roupas muito velhas e muito sujas. 

Seus olhos castanhos escuros passavam insegurança para as pessoas e medo para as crianças. Seus dentes tortos e amarelados carregavam um triste sorriso - que já não se abrira há tempos. Andava pela noit
e conversando consigo mesmo e com as estrelas, suas únicas amigas.

As pessoas o observavam de longe. Devia-se levar em conta que ele nunca foi do tipo receptivo - olhava torto para as pessoas e resmungava quando alguém tentava algum contato.

Qual sua razão de viver então? O que fazia além de vagar sozinho pelas calmas ruas de uma cidade esquecida pelo universo?

Dizia as más línguas que ele era apenas mais um louco que se aventurou para fora dos muros de seu hospício, ou até mesmo que ele fora abandonado por um circo que passou pela capital alguns anos antes.

O que nem todos sabiam é que o pobre vagabundo guardava consigo uma cicatriz incurável, algo que o mantinha acordado pelas madrugadas frias. Todas as lágrimas e resmungos que produzia vinham de um motivo em comum.

Após tanto tempo abandonado, acostumado com a dureza das ruas e a podridão das pessoas, o velho andarilho resolveu viver sozinho perante tudo o que havia passado. Sabia que era muito mais confiável uma colchão duro embaixo de uma ponte do que a mão de uma pessoa qualquer.

Nosso pobre indigente guarda consigo a ferida mais profunda e triste que qualquer homem pode carregar. A mesma coisa que fez esquecer-se da vida e de que nem todas as outras pessoas não possuem sentimentos. Algo capaz de nos destruir primeiro por dentro e depois por fora, levando então nossas vidas jazidas na podridão do nosso inferno mental.

Um amor não correspondido. O veneno mais mortal que pode escorrer dos olhos de um ser-humano

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